domingo, 28 de outubro de 2018

que tristeza

que horror

domingo, 29 de abril de 2018

Ousadias sob condicional

Quantos perigos habitam o fundo das garrafas
Quantas combinações silábicas terríveis teimam em pular da boca
Denunciam nossas inseguranças
medos e preconceitos
até então bem escondidos
até então lacrados na gaiola do sorriso

O corpo solta
a mente perde o fio
começa a juntar ousadias
liberadas a noite
escondidas de dia




Outonei

Penso em toques e embalos
de músicas infantis
suaves modelos
nítido escárnio
em terra caem
todas as minhas folhas
eu sou outono
e aguardo


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Busca da Mensagem Ideal








A humanidade é boa ou má? Nenhum dos dois, ela apenas é, apenas existe. Assim como não se pode caracterizar raças, animais e plantas como malignos, os humanos são apenas outros animais. Porém eles possuem uma habilidade altamente desenvolvida, a comunicação. Esta habilidade possibilita que o homem seja capaz de modificar o ambiente ao seu redor. Como? Bem, comunicando-se ele é capaz de incitar revoluções, de transmitir ódio ou amor coletivo, é capaz de realizar grandes projetos, é capaz de mudar situações arraigadas, é capaz de defender a si próprio e ao próximo, é capaz de ensinar, de evoluir. Não apenas o homem se comunica com o homem, a natureza envia mensagens, e o ser humano é capaz (talvez a única criatura) de comover-se, de perceber beleza, de considerar milagroso ou divino, de buscar respostas. A partir do momento em que o homem primitivo definiu o que era sagrado, que se perguntou sobre sua função no mundo, que começou a enterrar seus mortos, ele se tornou homem. A descoberta do sagrado foi tão relevante quanto do fogo, pois definiu o sentido de humanidade, o sentido de continuidade, o de função, a escrita, e por consequência, o registro.

Dentro de sua evolução o ser humano iniciou atividades parasitárias, as quais se tornaram nocivas para o organismo vivo maior, a Terra. Esta espécie, uma entre tantas, a primeira que começou a tomar consciência de sua função como célula de um organismo maior, adoecia seu hospedeiro. Mas isto ainda não o torna mal.

Como todas as criaturas, a humanidade possui o seu lugar, sua função no mundo, e sua capacidade de comunicação também serviu para que sua atividade parasitária fosse diminuída através de estudos e difusão de informações. Era preciso amar a terra e suas criaturas, embora a mensagem para a preservação ambiental tenha que ter sido mais egoísta exatamente para termos de impacto, o ser humano tinha que preservar seu ambiente para que prosseguisse existindo, para que sobrevivesse, os produtores de campanhas de conscientização constataram que mensagens de amor à natureza não seriam tão impactantes em uma sociedade globalmente cética.


A comunicação é a força do homem, com ela produzimos arte, conhecimento, informação, ciência, tecnologia, difundimos curas para o corpo e para a alma. Curamos também outras criaturas, e somos capazes de ajudar na geração da vida, pois sabemos como plantar a semente na terra e no útero de outros animais. Somos belos por essência, nem bons, nem maus.

Na era da comunicação, da informação aparentemente infinita, nossa missão está clara, possuímos o canal, temos agora que sermos capazes de fruir da parte certa da mensagem, até filtrarmos todas as cacofonias e pedras do texto, e sermos capazes de juntos produzirmos a “mensagem ideal”, a qual explicarei mais adiante.

Não se deve temer os canais de comunicação, não se deve temer a tecnologia, ela é aquisição de conhecimento. Esta temeridade, presente na escola conservadora, impede a fruição correta do indivíduo, desde criança, de fruir idealmente da mensagem, este fruir seria exatamente adquirir conhecimento através de qualquer tipo de mensagem, inclusive as que se pretende poupar uma criança de ter acesso.

O ruído está na própria mensagem, imperfeita por ser humana, mas por ser humana, por ser uma função de uma célula de todo o organismo maior, tem sua função, seu grau, seu ponto, sua maneira ideal de fruição. Essa fruição ideal se dá apenas através do conhecimento, da consciência expandida que contém em qualquer mensagem, é ignorar a infantilização que a mídia confere aos seus leitores, o negativo, e ser capaz de fruir. A era tem como tônica a comunicação, todos os seres estão interligados agora por uma rede “paupável” que o homem pode reconhecer como real.

A mensagem ideal é o que se pretende obter quando se escreve as leis, a Bíblia, Alcorão e outros livros sagrados, os códigos de conduta, os direitos humanos, os tratados, etc. Estes textos aproximam-se da mensagem ideal por conta de sua intenção de organizar a humanidade, de conferir função, o texto escrito com o pensamento no outro é o texto que caminha em direção da mensagem ideal.

Esta mensagem ideal seria, ou será, produzida coletivamente. Como? Tornando o ser humano capaz de fruir dela, refletir a respeito dela, argumentar, fazer contraposições, editá-la e repassá-la a outros humanos igualmente capazes que farão o mesmo exercício. Com a repetição do exercício, aconteceria a limpeza do texto, apenas o que estivesse de acordo com toda a humanidade, porém analisado individualmente (pois a massa é burra), teríamos o que chamo de mensagem ideal.

Porque tal reflexão é necessária? Tal reflexão é necessária porque a linguagem humana é composta por signos que não compreendem todo seu significado, cada ser humano tem uma concepção para cada signo de sua língua, de maneira tal que as coisas precisam ser explicadas, exemplificadas e argumentadas de maneira tal que o outro possa compreender, pela sua maior parte, o sentido daquilo que seu interlocutor diz. Se não fosse assim a mensagem ideal não precisaria nem mesmo ser explicada, seria como, por exemplo, máximas humanas: “A água é úmida”, não há discordância ou explicação.


O erro habita no descaso. Descaso de todos que produzem informação (e hoje em dias todos produzem), que, sem pensar em seu receptor, envia mensagens confusas e desnecessárias na rede. Quando a mensagem é produzida com o pensamento no próximo, por mais que ela não seja a mensagem ideal, caminha em direção à mesma. Quando a mensagem é produzida de maneira egoísta, ela apenas fornece mais poluição à mensagem, afastando a humanidade de seu objetivo implícito. Porém estes também possuem sua função, quando todos forem capazes de fruir idealmente da mensagem (e todos os homens devem pensar em ideais, para que se chegue o mais próximo dele), essas mensagens poluídas possibilitarão uma digressão, esta digressão fornecerá respostas para o próprio ser humano sobre si mesmo como essência.

O fanatismo religioso foi necessário na história como nós a compreendemos para que o homem descobrisse a existência de sua alma, o racionalismo extremo foi necessário para que o homem descobrisse sua liberdade, sua força e sua capacidade, seu movimento como ser ético, capaz de julgamento sobre si próprio, o homem livre seria capaz de livrar-se do “bezerro de ouro” da religião imposta, com regras e pecados, e assumir seu Deus interno, reconhecê-lo como paixão (pathos) e aceitá-lo como realidade (logos), para a concepção ideal do ethos, ética.

Depois de um tempo o homem teve que negar a própria força comunicativa, pois alguns homens faziam uso da mesma de maneira egoísta, de maneira a se sobrepor sobre os outros, sua hierarquização social tornava seu próximo menos ascendido socialmente como um ser vulnerável, crianças e populações menos favorecidas. Assim, os que procuravam a mensagem ideal produziram censuras, proibições, com o intuito de proteger.

Não se pode mais proteger o indivíduo da rede de comunicação como não se pode protegê-lo da necessidade do acúmulo de dinheiro para a troca dos bens com os quais acredita precisar para viver. A única maneira de proteção seria o ensino dos mecanismos da mídia. A mídia possui maneiras de se fazer penetrar na mente do indivíduo, aquele que souber quais são esses mecanismo, tornar-se-á imune à manipulação e disponível para a fruição de qualquer tipo de mensagem, de maneira livre e consciente. Sendo assim, será capaz de julgar, de exigir seus direitos, e exigir de sua mídia, que é o espelho da sociedade, outro tipo de informação, mais adequada a seres não mais infantis em suas fruições narrativas.

Como ajudar a produzir a mensagem limpa? Produzindo cuidadosamente e conscientemente, com o “coração no lugar certo”, a intenção da mensagem é que terá o efeito necessário, mais do que seu conteúdo. O texto informativo produzido com humildade, sem a formulação de sentenças prontas, julgamentos, estereótipos, sem uso de caracterizações (o perfeito prefeito, o maléfico bandido), e a admissão de que a verdade impressa no papel ou circulando na rede pode estar errada, que a verdade daquele indivíduo, por mais apaixonada que esteja, pode ser descartada, será o que mais chegará perto desta mensagem ideal.

A arte não, a arte é livre, deve ser completamente livre, pois ela é que abre portas e caminhos para essa fruição ideal do mundo, dos sentimentos internos, ela é emancipação e revolta, é mudança e denúncia, os artistas são o coração da humanidade, lembra ao homem o seu “beeing”, o seu ser/estar, e não seu bem/mal.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A abelha

Vem! Diz que vem
dizzzzzzzzzzzzz
Diz abelinha
Se voce nao vier o mundo acaba!

- Eu hein! Voces sao virus! To fora!




Eu me apego aos loucos 4



Eu me apego aos loucos
Não é nem por escolha minha
Se eu tivesse escolhido na hora que precisei escolher
Teria dito, não, me coloquem ali,
Naquela panelinha simpática
De adolescentes bonitas e muito paqueradas
Quero ir ali, onde convidam para as festinhas
Onde conspiram quem vai sorrir e quem vai chorar
Neste pequeno mundinho de sala de aula
Como foi grande o choque
Quando eu finalmente me vi dentro disso
E vi quão grandes eram suas mentiras
E suas vendas
Parecia que só eu os via... E mesmo tendo um olho em terra
De cegos
Eu não era rainha
Era pierrô

Eu me apego aos loucos 3

Eu me apego aos loucos

Para não correr riscos

Um louco a gente já sabe que é louco

É saudável já esperar de tudo

É saudável não esperar muito mais

É saudável ser surpreendida por eles

Os loucos que eu me apego são como professores polêmicos

Sempre vêm com umas coisas novas que te chocam

Mas isso reestrutura teu mundo

Reconstrói seu significado

Cada dia fica mais fácil aceitar que tudo que você aprendeu

Está errado


Eu me apego aos loucos 2


Eu me apego aos loucos

Não é por nada não, mas eles são tão cheios de umas verdades pequenas

Bem pequenininhas

Que os preenche imensamente

Sim, os preenche

Que delícia para aquele louco a sua verdade

Por mim, sugava as pequenas verdades de todos os loucos, engolia-as

E saia de la gorda e lustrosa de verdades

Eu me apego aos loucos





























Eu me apego aos loucos
Sim, eles mesmos
os loOOOooooOooOooOoOOOOucos
O resto do mundo não tem graça
O resto do mundo
Ah meo, o resto do mundo é a mais pura hipocrisia
Não que eu esteja dizendo que não existe gente normal
Só que eu nunca vi um
Assim, de pertinho
Nunca senti o cheiro de alguém normal
Será que o pum de alguém normal cheira mal escondido?
Na verdade isto me incomodava um pouco antes
Eu não conseguia entender porque raios as únicas pessoas que queriam ser minhas amigas
Eram todas meio lelés da cabeça
Não, fato, todas meio lelés
Se não completamente
E eu lá, querendo ser normal
Chorando pela minha ausência de normalidade
Revoltada
Revoltadíssima
Por fazer parte dos nerds, dos weirds, dos esquisitos

Na verdade não era nem por ter alguma nerdisse
Porque quando eu olho de perto os outros
Me sinto bem pouco recheada de alta cultura
(estufada que nem leitoa de natal)
Acho que os normais viam que eu os via...

Depois que eu fui descobrir
Depois de sofrer loucamente por essa besteira
Que eu estava na vantagem

terça-feira, 24 de maio de 2011

Para que eu nunca me esqueca


Porque esta serenata eu nao encontrei em lugar nenhum
E minha mae cantava para eu dormir (e eu nunca dormia)

O menina, por favor abre a janela
venha ver a noite eh bela
e eu canto pra voce
laia laia laia laia laia
Boa noite, boa noite meu bem
a serenata que eu faco
eh pra voce e mais ninguem
laia laia laia laia laia

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Paquepaque pruanpran prum
Tiquelatucutucutucutu
bererem bem bum
Si fa
fala metu ca


Travieru

Corte
Rapido
Rapideira
Ghardieasno

ssiames
ssiantodsaeoda

ekflafie
bororom bororom

Piquetuca
piquetuca

mara
mara

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Salva novamente por um pouco de poesia e filosofia


Apenas porque ele disse exatamente o que eu precisava ouvir sobre minhas dores de amor.



LXX. DA CARIDADE

Se se pudesse dar, indefinidamente,
Mas sem, do que se deu, nada perder, em suma,
Ainda assim, muita gente
Nunca daria coisa alguma...


LXXI. DAS PENAS DE AMOR

É só por teu egoísmo impenitente
Que o sentimento se transforma em dor.
O que julgas, assim, penas de amor,
São penas de amor-próprio, simplesmente...


LXXII. DO OBJETO AMADO

Impossível que a gente haja nascido
Com os encantos que um no outro vê!
E um belo dia se descobre que
Houvera apenas um mal- entendido...


LXXIII. DA REALIDADE

O sumo bem só no ideal perdura...
Ah! quanta vez a vida nos revela
Que "a saudade da amada criatura"
É bem melhor do que a presença dela...


LXXIV. DO AMOROSO ESQUECIMENTO

Eu, agora - que desfecho! -,
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixa
De lembrar que te esqueci?


[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]

Psiquiatra - sobre o amor e a amizade
Apenas um trecho de todo o cafe filosofico

Vergonha


Era uma vez uma moça que não sabia cantar

Disseram que tinha a voz muito feia

Depois disseram que ela era uma feiticeira

Acenderam uma fogueira

Se ela cantasse, ela seria de Deus

Ela não cantou

Morreu, carbonizada

Seus pais não a reclamaram, ela provara ser feiticeira

E eles não assumiriam uma filha feiticeira

São Pedro, ao recebê-la, perguntou:

Filha, por que não cantastes? Ao menos seus pais lhe reclamariam

Vergonha, Seu Santo, Vergonha.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A arte eh um bicho saci


Meu professor diz que para fazer poesia eh preciso pensar poesia
racionalizar poesia
nao escrever sobre o sentimento no momento do sentimento
mas depois, com calma, com malicia,
massageando as palavras enquanto as leva, distraidas, para um trampolim, nas quais elas caem como num abismo, assustadas e pela metade
preenchendo o papel

Outro professor por ai,
disse que para salvar o mundo, soh o governo,
os atuantes,
e nosso estudo, nossa pesquisa,
eh toda feita para ajudar essas pessoas que possuem poder para salvar o mundo

Ai vem a TV, com pessoas correndo felizes e emocionando
utilizando um produto,
e falando sobre o amor ao mundo, a Terra
aos seus semelhantes

Ai meu pensamento entorta a cabeca, e parte em divagar:

A arte sacaneou, estavamos todos suspirantes por ela
quando ela nos deu um susto, um enorme bu
Ao comecarmos a suspirar por ela novamente ela se entorta toda
como a fazer careta
Ofendidos, passeamos mais desconfiados no seio da arte
entre nos os mais sensiveis,
captaram as novas belezas na careta e no susto da arte
Ai ela, saci que eh, nao se conformou
Causou logo o estranhamento, o asco, o esquisito, o comum demais
Ai ruiu com os pobres gregos, justo eles!

Depois de aceitarmos que a arte eh um bicho saci, caprichoso que possui vida propria
Ela, que estava bem ali, do ladinho de Deus, do divino e de todos os seus anjinhos
pulou, atrevida
atrevidissima
ofensiva
diria mais
arrogante!
Ela pulou, vejam soh
no colo da entidade maxima do homem de hoje
Deus e Diabo, para os sensiveis, (justo eles)
Linda, gorda, trouxe tudo de volta
aquele prazer de olhar para ela
de comer, lamber, saborear a arte
e no centro dela
como uma agulha dentro da almofada de umedecer os dedos
um objeto
um algo qualquer
que teremos que ter

terça-feira, 19 de abril de 2011

Dia do indio

APOENA BAQUARA

Oferece uma prece

ironicamente o dia do santo catolico das causas impossiveis
santo expedito
cai no mesmo dia
em que comemoramos o dia do indio

Talvez Santo Expedito soubesse da protecao extra que esse povo precisava

Uma prece
Ao eterno retornar
Ao eterno retomar
Ao eterno renovar
Do fundo do peito
com carinho

Apoena Baquara

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Oi

oi?

O que fazer quando o espelho grita gorda para voce?



a. Quebra o espelho
b. Vai para a academia
c. Compra um chocolate para afogar a magoa
d. Se embebeda para esquecer
e. Procura desesperadamente alguma amiga para dizer que ele mentiu
f. Le artigos e participa de foruns da internet sobre como ser feliz sem tereem inventado photoshop reallife ou photoshop para espelhos
g. Faz cirurgia plastica
h. Faz de conta que nao ouviu
i. Chora
j. ri
k. Liga para um programa de tv, vc tem um espelho falante
l. compra uma cinta-liga
m. desencana, pq percebe que nenhuma das alternativas funcionam
n. culpa alguem
o. culpa a sociedade capitalista burguesa crista ocidental
p. Se convence que ter cerebro eh muito mais legal
q. Compra uma burca
r. Comeca a fazer abdominais, que nao repetira no dia seguinte
s. Procura se casar o mais rapido possivel antes que isso piore e vc fique pra titia
t. Liga para todas suas amigas, as quais tambem possuem espelhos que gritam (ou seja, todas) e planeja uma revolucao
u. vai dormir
v. corre para o salao de beleza ou para o shopping e se reafirma com as ultimas promessas da industria
x. Compra um remedio carissimo para emagrecer, sem ir ao medico mesmo porque sua necessidade eh URGENTE, e toma
w. Poe um top, escreve gorda na barriga e sai na rua dizendo: voces vao ter que me engolir
y. Suspira e procura um filme de mulherzinha, (comer, rezar e amar) para te consolar
z. Escreve uma lista sobre coisas que poderia fazer, chega ao final do alfabeto, e descobre que nenhuma opcao sera boa o suficiente para saciar esse desejo de preencher uma estetica que o mundo, sua familia, sua sociedade, seus amigos, seus parceiros encucaram em voce e te ofende o tempo todo, decide que eh inalcansavel e senta desconsolada na frente do computador pensando, e agora???


RECOMENDO:

soh nao me culpe se continuar com raiva de tudo


quinta-feira, 7 de abril de 2011

O jornalista e a estrutura de poder

O Jornal Nacional

Entre as palavras mais repetidas no Jornal Nacional estão: jornal, nacional, região, área, pesquisa e correspondente. Isso demonstra dois perfis do veiculo; autoreferência e estrutura dominante de poder.

Os dois perfis se justificam, pois se complementam. A autoreferência ocorre pela necessidade de se manter existindo, veiculando e sendo escolhido entre outros veículos, a luta capitalista pela sobrevivência, o existir e enriquecer ocorre com os mais fortes, mais atualizados, mais inteligentes e com a melhor estrutura publicitária.

A condizência com a estrutura dominante do poder corresponde ao editorial, já que uma delimitação é necessária, inclusive para que o leitor possa decidir qual jornalismo consumir (hoje o jornalismo precisa decidir para que time joga). Esta concordância com a estrutura de poder é também uma estratégia de manter-se como o veículo de maior aceitação e credibilidade. Tendo o jornal tanto poder e tanta repercussão, como poderia discordar de algum presidente ou governo e ele ainda continuar em vigor? A partir do momento em que se apresentasse esquerdista, o Jornal Nacional se mostraria mais fraco, tanto para o povo, quanto para o próprio governo, pois se demonstraria incapacidade de impor suas próprias regras e ideologias. Perderia o estatuto de quarto poder regular socialmente, partiria para a militância.

Assim, quando este veículo discorda de algum governo, é uma questão de sobrevivência que sua ação tenha o máximo de relevância e seja capaz de fazer valer sua vontade.

Os jornais expõe com certa regularidade “pedaços” de sua realidade interna, seja por um processo de auto-referenciação, seja nas campanhas de marketing veiculadas nos próprios veículos de comunicação. Isso sem contar o cinema, que sempre soube retratar, com ou sem retoques, a realidade dos órgãos de imprensa [DUARTE, Jorge (org.). Assessoria de Imprensa e relacionamento com a mídia. São Paulo: Atlas, 2003, p. 105].

O trabalho jornalístico está cada vez mais braçal e menos intelectual, pois a notícia exige imediatismo e para que haja a produção de “produtos” em série, sendo estes produtos a matéria propriamente dita, faz-se necessário que se siga apenas a um padrão, a um esquema. Podemos nos remeter ao fordismo que revolucionou os meios de produção com o conceito de “time is money”, suas fábricas produziam produtos, no caso, carros, tendo peças e mecânicas semelhantes, as máquinas e seus trabalhadores possuíam funções específicas e repetitivas que permitiam que funcionasse com maior excelência e velocidade, assim potencializaram o seu modo de produção.

Tendo a imprensa como espelho da sociedade, podemos ver que seu modo de produção condiz com a necessidade capitalista moderna de vender e ser mais atraente e mais rápida. Os jornalistas aprendem métodos e linhas de pensamento para construir uma noticia factual, concreta, acessível e bem embasada.

Por exemplo, no título é sempre obrigatório um verbo de ação na voz ativa, pois é a chamada que atrai o leitor de jornal. O lead, que se faz no primeiro parágrafo, deve por excelência responder às perguntas: quem, quando, como, onde e por que. Isto acontece por conta da praticidade, a maioria dos leitores de jornal não ultrapassa o primeiro parágrafo e quanto mais atraente e sensacional for este primeiro parágrafo, e este título, maiores serão suas chances de ter a matéria lida até o final e/ou publicada na capa.

O trabalho jornalístico cada vez mais se torna publicitário, com a enorme quantidade de informação. O jornalismo, por causa disso, enfrenta o paradoxo de precisar vender produtos e serviços, mas também ser ético, corresponder a determinada ideologia e não ferir o editorial.

Uma redação não é o único lugar onde se decide o destino de determinada noticia. Entre a ocorrência de um fato e sua divulgação pela imprensa existem inúmeros canais intermediários (sociedade, Estado, igrejas, empresas, sindicatos etc.), ou outros interesses externos subjetivos (ideológicos, éticos, técnicos etc.), que influenciam na decisão final de se dar ou não uma notícia [DUARTE, Jorge (org.). Assessoria de Imprensa e relacionamento com a mídia. São Paulo: Atlas, 2003, p. 106].

Também podemos argumentar o vocabulário pela linha ideológica de democratização da informação. Por mais que o papel de educar da mídia apareça e desapareça conforme as discussões, os governos, a sociedade e a necessidade de corresponder às expectativas de seus leitores e/ou espectadores, o primeiro objetivo do jornalismo sempre foi o de operar uma ponte entre os poderes e as massas.

Temos assim, historicamente, jornalistas intelectuais, que têm por interesse provocar rupturas e epifanias em seus leitores, e jornalistas mecânicos, cujo objetivo é chegar primeiro e produzir a notícia mais interessante, completa, nova e crível, sendo que ambos profissionais podem representar facetas diferentes de uma mesma pessoa. A tendência é produzir matérias condizentes com o editorial na esperança de ganhar créditos para escrever em que realmente se acredita, em ser tomado como autoridade e conseguir “mudar o mundo”, levar a informação à população, sem perceber que, ao transmitir sua ideologia em um veículo tão grande e tão imediatista, pode-se provocar imensas falhas sociais, tornando, assim, líquido o conceito de moral, ética, sucesso, instituição etc.

O grande poder do jornalismo, colocado na balança junto a sua função perante a sociedade, sempre foi uma dificuldade na formulação do que chamamos de ética jornalística. Por muito tempo pensou-se que a matéria perfeita seria aquela completamente imparcial e buscou-se modos de fazer com que o texto exibisse apenas os fatos, sem opinião. Foi quando teve início a tendência da impessoalidade, concretismo, o uso de autoridades sobre o assunto (advogados, médicos, professores universitários), a pesquisa de opinião e a obrigatória exibição dos dois lados da notícia. Porém ao longo do tempo, este conceito caiu por terra ao notar que a simples escolha de palavras (bandido, marginal, o homem, o indivíduo, o estudante) poderia denotar um favoritismo ideológico que se apresentava inevitavelmente no texto. Desta forma, a maneira que o jornalismo encontrou de prosseguir com seu papel democratizante, ser acessível, ser concreto, ser crível e ser factual foi reduzir seu vocabulário ao máximo (usa-se com freqüência lugares comuns, principalmente no lead e na seleção dos entrevistados) e utilizar verbos que permitem poucas possibilidades de dupla interpretação, sintoma claramente apresentado nas palavras contadas no JN.

O perfil condizente do JN com a estrutura dominante, os governos e o presidente, além de sua classificação como maior autoridade quando se trata do país que governa, corresponde a um editorial, o qual por sua vez corresponde a uma estrutura ideológica. O mesmo ocorre com os veículos de “esquerda” ou que ridicularizam a estrutura de poder, estes também possuem a intenção de informar ao maior número de pessoas possível os fatos que confirmem seu editorial, ou seja, os fatos que confirmem sua estrutura ideológica. Este perfil aparece desde a escolha de quais matérias são relevantes ou não para publicação, até o enquadramento dado pelo fotógrafo a determinada imagem.

Eagleton traz uma definição de estruturas de valores que apreende as especificidades do texto individual:

A estrutura de valores, em grande parte oculta que informa e enfatiza nossas afirmações factuais, é parte do que entendemos por “ideologia”. Por ideologia quero dizer, aproximadamente, a maneira pela qual aquilo que dizemos e no que acreditamos se relaciona com a estrutura de poder e com as relações de poder da sociedade em que vivemos. Segue-se, desta grosseira definição, que nem todos os juízos e categorias subjacentes podem ser proveitosamente considerados ideológicos. (EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: Uma Introdução. Basil Blackwell Publisher Limited Oxford, England, 1983. p. 16)

Podemos afirmar, em consonância com Eagleton, que a ideologia não é apenas a crença que tem raízes profundas, mas sim é o “modo de sentir, avaliar, perceber e acreditar” (p. 16), coisas que vieram da sociedade, da educação individual, da cultura e se relacionam de alguma forma com a manutenção e reprodução do poder social.

sábado, 26 de março de 2011

15 minutos para sempre

Enquanto meninos como essa coisinha fofa ai fazem o maior sucesso (kangief kid fez tudo que eu deveria ter feito), o bullying passou a ter nome, passou a ser crime, passou a ser diagnosticado... Ser um bully hoje e' tao feio quanto ser machista e/ou preconceituoso. VIVA E VIVA!
Pessoalmente eu nao poderia estar mais contente, o bullying tornou minha vida social dramatica.
Ser simpatica, ser acolhedora, confiar em alguem novo e' realmente uma surpresa e um esforco constante para mim.

Mas a faculdade comecou, a consciencia social do respeito as diferencas apareceu, a minha consciencia de que nao havia nada de errado com quem eu era tambem ficou mais clara, alem de eu me sentir parte dessa campanha de pacificacao do ambiente escolar.

Vamos pacificar o ambiente escolar, se ele nao se pacificar, vamos aplaudir a cada Zangief Kid que aparece, finish him!!!

Enquanto isso: Ando surpresa com meus avancos na area mais dramatica das minhas relacoes sociais
o intervalo

CENA 01_INT_Flashback:

Com o bullying por ler demais em uma epoca em que a palavra bullying nao existia
a hora do meu maior pesadelo eram os longuissimos 15 ou 20 minutos do intervalo
Eu odiava a hora do intervalo
era o momento em que se expressava tudo o que se escondera dos professores na sala
As meninas uniam-se em grupos e risadinhas
Os meninos se estapeavam em seus proprios jogos e divisoes de poder
E eu inventava lugares longes e ia andando bem devagar para enganar a mim e aos outros
que estava simplesmente sozinha demais
e que 15 minutos eram extremamente dramaticos
a ponto de passa-los trancada no banheiro
esperando bater o sinal

CENA 02_INT_Em que se avanca para a faculdade

Entrei na faculdade consideravelmente traumatizada
a palavra amigo era mais utopica do que marido
e eu me agarrava a um namorado para nao ter que conhecer pessoas
e nao ficava sozinha no intervalo

Por causa do intervalo eu nao fiz cursinho
fui para a particular onde eu sabia que teria alguem para ficar esse 15 minutos comigo
Um namorado era companhia suficiente
E foi, ate que ele nao existiu mais

CENA 03_INT_FEMA

Acham que morri? Nada, foi o melhor que poderia ter acontecido.
Agora voces me imaginem rindo
rindo muito
pulando, gritando, chegando atrasada, bebendo, paquerando
abracando as pessoas
Eu estava finalmente a vontade
Depois de uns empurroes de algumas colegas
fiz amigos e amigas
E eles cresceram dentro de mim
E minha vontade era imensa de deixar de estudar apenas para curtir
o fato
de ter amigos
Depois que isso aconteceu choramos rimos e bebemos juntos
e nos formamos
A nossa tribo das trevas se dissolveu
os meus meninos ainda estao por aqui
mas estamos sem nos ver

CENA 04_INT_Volta ao presente

Ando surpresa
Agora sou capaz de cumprimentar
Cheguei amedrontada na unesp
Agora so tinha o intervalo dela para enfrentar
Admito que nao foi de primeira,
quando sai em um intervalo e me vi sozinha
fui ate um banco perto da cantina
no escuro
e me sentei la em desespero
ainda bem que existe celular!!
Dai passou, puro estado de espirito
E sai perguntando nomes
Dizendo que estava ali sozinha
me comunicando
Me inflei de orgulho dos sorrisos sinceros que distribui ao cumprimentar
na parte da manha sorrisos de oi sempre me foram dificeis...
Fiz a proeza de me incluir em grupos de seminario
em decorar nomes
e meu maior feito: fui em direcao a uma roda de pessoas
disse oi, e fiquei
Agora me pergunto se poderia ter a mesma amizade com um grupo
que os que tive na FEMA
Estou experimentando minhas simpatias e individualidades
e mesmo que meu coracao ainda bata de angustia quando saio para o intervalo e nao vejo um amigo
Vou aprender sem medo essa arte de ter amigos
Nem que isso me mate

Votos ao meu Zangief Kid, parabens lindinho, deve ter se sentido da mesma maneira de quando eu me senti quando aprendi a mandar tomar no cu. Libertador.

Post pessoal, 'a todos os que sabem que a solidao e' constante no seculo XXI, que o stress e' o mal do seculo e a depressao a nova peste negra. Fugimos. by the way, Zangief Kid mudou sua vida em menos do que 15 minutos...

Pratique a Empatia.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O que li e nunca foi dito do coracao de uma amiga

Ela caminhava entre as folhas secas do campus
requebrava maliciosa quando se sentia observada
pesava o tenis por cima dos galhos
gemiam

Pensamentos mesquinhos lhe passaram na cabeca
Ela olhou para os lados
certificou-se
nao, ninguem ouvira o que gritara sua cabeca
por mais alto que lhe tenha soado

Olhou para o tronco da arvore e os galhos movimentavam-se
obcenos
vagamente contou
um, dois homens
sete, nove dias
uma, duas paixoes,
nenhum amor
um defunto amor
nao, definitivamente nenhum

Agarrou-se aquela verdade momentanea

Narcisa, vestiu-se
Sentimentos borbulhando em face ao espelho
Reagindo a sua propria imagem
A imagem, refletindo os pensamentos

Preparou a camera em cima da mesa, onde jogara as pecas de roupa
acionou o timer
e dionisio espiava
o teatro de poses e caras
mudas
ou sob o som pesado
de um tal de rock'n roll


Mudas, reais ou nao, 'e triste imageticamente
toquemos um jazz a nossa personagem

Ouvia Jazz

Mediu-se
Acariciou seu formato
Teve certezas absolutas
Tao certas
Tao absolutas
Que trazia duvidas
Se realmente eram verdadeiras

Medie Midia
Se meu corpo, minha roupa, minha expressao
compete com suas sacerdotisas
Que vejam todos e confirmem
Pois crescerei aos teus olhos
E por conseguinte aos meus

Sou meu corpo, sou minha alma
Sou so minha, e se nao quis
Perdoo tal ignorancia
E confirme minhas certezas
nas suas dancas
mao unicas
infeliz


domingo, 13 de março de 2011

A (craseado) visibilidade, sentir-me util.

Descobri, a uma hora atras, que me texto "Coisas", feito em 2007 e postado no recanto das letras, foi utilizado em um artigo de um jornalista pos-graduado e graduando em letras (e qualquer semelhanca e' realmente mera coincidência!). Este mesmo texto tambem foi utilizado em uma prova de preparacao para o enem, com meu nome citado e o dominio (recanto das letras), esta menina que me informou deste detalhe viu, me jogou no google e achou, la, meu texto internetetico, e ainda acertou a questao!
Admito que meu coracao bateu forte, que delicia ser usada como referencia! Ainda que o texto nao seja minha obra prima, algo util eu escrevi! Ali, na bibliografia, meu nome abaixo de bakhtin! E' de desmaiar...

Claro que vou colocar aqui o link do artigo:

http://www.webartigos.com/articles/60031/1/INTERNETES-PRATICIDADE-NA-LINGUAGEM-VIRTUAL/pagina1.html#postedcomment


Com meu comentario anexado.
Internet, realmente, voce 'e tudo que dizem ser, meus textos foram lidos por 4953 boas almas, e foram uteis a pesquisa e a educacao (craseados, enfaticamente). Dormirei sorrindo.

sábado, 12 de março de 2011

Eu decorei, entao vale como expressao artistica representativa... entre outros bla bla blas



Os ogros são como cebolas

“Shrek: Pra sua informação, há mais do se imagina nos ogros.
Burro: Exemplo?
Shrek: Exemplo? Ok… Ah… Nós somos como cebolas.
Burro: Fedem?
Shrek: Sim. Não!
Burro: Oh. Fazem você chorar.
Shrek: Não.
Burro: Oh, deixa eles no sol e eles ficam marrons e soltam aqueles cabelinhos…
Shrek: Não! Camadas! As cebolas têm camadas, os ogros têm camadas. A cebola tem camadas, entendeu? Nós dois temos camadas.
Burro: Oh, vocês dois têm camadas. Oh. Sabe, nem todo mundo gosta de cebolas. Bolo! Todo mundo adora bolo! E tem camadas.
Shrek: Eu não ligo pro que todo mundo gosta! Ogros não são como bolos.
Burro: Sabe do que todo mundo gosta? Pavê! já conhecesseu alguém que você falasse ’ei, vamos comer pavê’ e ele dissesse ’céus, não gosto de pavê’? Pavê é delicioso!
Shrek: Não! Sua besta ambulante de irritação constante! os ogros são como cebola! Fim da história, bye bye, tchauzinho.”

Do filme Shrek 1

Um poema de Fernando Pessoa lido em um restaurante no Japao






Japão, 2011.

Passaporte número 4356-0, visto permanente.

Data do check-in: 4 April, 2002.

Estado civil: solteiro.

Profissão: Atendente de escritório.

Data de nascimento: 05 de julho de 1983.

Mora: sozinha.

Dependentes: não.

Animais: dois gatos.

Nacionalidade: brasileira.

Único registro em vídeo sobre sua estadia no país é o de um restaurante. Fernanda, após ter pedido para o dono do restaurante para ler um poema para, em suas palavras, “aliviar seu coração”, e ter jurado que seria rápido, fez o seguinte discurso:



Hello everybody!

My name is Fernanda Pereira , and I am from Brazil.

This is not my place, this is not my language, this is not my culture

But I fell sadness and it seems like poetry

In this foraging land nobody knows me

When my birthday was important to other people, it wasn`t as important to me

As it is now that I don`t have that people to sing it happy to me

That`s why I translated a beautiful Portuguese poet that I studied at the university, Fernando Pessoa, and I want to read my translation for you

In my heart it`s tenderness to bring life and words to sorrow

I hope that bring you the energy to come back to your houses thinking that someone

In this world

Fells as lonely as you, and realize that anyone have empathy with loneliness, because everybody have it.

Here I go:

In the time the party my years,

I was happy, nobody was dead.

At the old home, even my birthday was a century tradition,

And everyone`s happiness, and mine, was certain as any religion.

In the time they party my years,

I was healthy to don’t realize anything,

To be smart among family,

And don’t have hopes that other have for me.

When I had hopes,, I didn’t knew how to have them.

When I looked to life, I missed the meaning of it.

Yes, what I was the supposition of myself,

What I was the heart and familiarship,

What I was as half land in the mid-afternoon,

What I was as loving me and me being a girl,

What I was – oh, my God! What only today I know I was…

What distance!...

(can’t find it…)

When they party my years!

O que ela afirmou ser a tradução do poema de Alberto Caeiro (Pessoa), que leu em seguida em português:

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

Ela foi aplaudida e se retirou. Hoje a família a procura por todo o país, já fazia tempo que sumira, o tsunami devastou o local, o desespero de sua mãe, que não a tinha enterrado e não a entendia morta, apesar de desaparecida a quase um ano. Porém ela desembarcou no país na madrugada do mesmo dia, e fez a tradução da segunda parte do poema, sem linguagem, mas a roupa, e o olhar:


O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...